sábado, 28 de abril de 2012

Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças

 A união de Michel Gondry e de Charlie Kaufman, e suas capacidades de criar obras que com cenários e roteiros fogem de todo lugar comum, fez surgir um dos filmes cult's mais celebrados da última década.
 Falamos de Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças, de 2004, uma obra em que os acima citados despejam toda sua imaginação criadora num enredo que cativa o espectador, assim como pelas personagens. Joel (Jim Carrey), após descobrir que sua esposa, Clementine (Kate Winslet), contratou os serviços de uma empresa para apagá-lo de sua mente, faz o mesmo. Ele recolhe todos os objetos que lembram ou que remetem à lembrança de sua ex e se submete à sessão. O porém é que, no meio da sessão, quando está desacordado portanto, Joel se arrepende de tal decisão e tenta enviar esse sinal para os ''apagadores de mente''. A história quase toda acontece nos labirintos da mente de Joel, intercalando com a realidade.
 Jim Carrey prova aqui que, para ser comediante, antes tem de ser um ótimo ator dramático. Mas podemos dizer que ele é ofuscado por Kate, que brilha e aparece mais que a todos os demais. Mark Ruffalo também atrai atenções em um das personagens secundárias.
 Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças é absurdo, com cenários inusitados e diálogos pra lá de criativos. O ponto alto da carreira de Kaufman.


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sexta-feira, 6 de abril de 2012

A boa música brasileira ainda existe - ou sobrevive!


 Um dos melhores trabalhos musicais lançados no ano de 2011 foi o projeto paralelo Agridoce, da cantora Pitty Leone e do seu baterista Martin Mendonça, que encheu de esperança os olhos, e ouvidos, dos desacreditados em relação ao caminho da nossa música.
 Agridoce nasceu de forma despretenciosa. Pitty, em suas férias e seu ócio, liga para seu companheiro de banda e o convida para cantar algo consigo. Gravam então a canção Dançando e jogam no MySpace. Com a boa receptividade que a mesma teve, a dupla então volta a se unir. Se encontram na Serra da Cantareira em um dia chuvoso, instalam microfones em toda a residência, desplugram os instrumentos e ficam apenas eles, o violão, o piano e a vontade inata de fazer música. 22 horas depois de totalmente reclusos do mundo lá fora, pronto! O disco está pronto.
 Canções melancólicas (devido ao ambiente, ao isolamento, ao clima), intimistas, leves, mas com letras às vezes com um certo sofrimento. Folk, fofo, cool, egocêntrico, às vezes vendo por uma janela cheia de pingos de chuva o movimento das folhas das árvores pelo efeito do vento. Galgando pelo português e pelo inglês, a cantora escorrega apenas quando passa para o francês, na faixa No Parle Pas, sexta faixa do álbum. Mas para recompensar, no fechamento do álbum, temos Please, Please, Please, Let Me Get What I Want, versão dos britânicos do The Smiths.
 Agridoce mostra o quão facetada Pitty é, tal qual um artista deve ser. Ela, que sempre se esforçou pra mostrar uma atitude roqueira, foi criticada por muitos de seus fãs pelo álbum Chiaroscuro, com seu carro-chefe Me Adora, de 2009, onde se encaminha mais pra um lado pop. Mas voltou a ter respeito com o A Trupe Delirante No Circo Voador, de 2011. Agora com o Agridoce, ela se mostra uma artista completa, sem medo de se expor, de expor o outro lado da moeda. Uma artista! Ainda com muito a provar, mas ainda assim, uma artista.


terça-feira, 3 de abril de 2012

O Poço da Solidão

Radclyffe Hall, autora de O Poço
 Há mais ou menos um ano, foi parar nas minhas mãos o clássico lésbico O Poço da Solidão, com o qual me comovi com a trajetória de vida e sofrimento de Stephen Gordon, que hoje, com mérito, é considerada heroína.
 Stephen Gordon é uma herdeira tradicional de uma família inglesa. Seus pais, principalmente seu pai, sempre ansiaram por ter um filho homem, se decepcionando com a chegada de uma filha mulher. Seu pai então, para aliviar sua frustração, põe na criança um nome masculino e a cria como se fosse um garoto. A ensina a cavalgar, a praticar esgrima e outros esportes, na época, masculinos.
 Desde cedo, Stephen sente inclinação para pessoas do mesmo sexo. Sua primeira paixão foi uma empregada, atenciosa, pela qual a garota nutria grande admiração. Já nessa época, sofria represálias pelo seu jeito masculino de se vestir e de ser, de vizinhos, amigos e, inclusive, sentia um ligeiro sentimento de recusa vindo de sua mãe.
 O livro caminha arrastado, monótono - não de uma forma negativa, é apenas uma característica sua - é detalhado, mostra fase por fase da vida da personagem, todas as suas mudanças, tanto físicas quanto psicológicas. Vai de primavera ao inverno, do inverno à primavera, e todas as mudanças que isso traz ao nosso espírito. Mostra todos os amores e desilusões da personagem. A descrição do lugar é muito realista, com cheiro de campo e de relva, e de madeira e de querubins. Todos os personagens têm características muito próprias, cada um com seus complexos, medos e prazeres. E o final, de doer o coração.
 O Poço da Solidão, da autora Radclyffe Hall, foi lançado primeiramente em 1928, tendo calçado grande alvoroço em toda a Inglaterra e América. Com o livro censurado, criticado duramente por várias frentes, vendido clandestinamente por décadas, Hall morreu, em 1949, e não viu seu livro atingir a glória, que veio alguns anos mais tarde. Hoje, O Poço pode ser encontrado em sebos e em raras bibliotecas.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

Frases de Millôr Fernandes

 Os mais jovens (como eu) não conheciam - até ele ser dado como morto -, mas os mais viventes podem confirmar que Millôr Fernandes foi um grande influenciador por décadas seguidas.
 Millôr foi um escritor, colunista, cronista, jornalista, humorista, crítico, desenhista, tradutor, dramaturgo - multifacetado! - brasileiro. Começou sua carreira no final de década de 30, chegando a ter trabalhado nos maiores veículos de comunicação do país, como Veja, O Cruzeiro, Diário Popular, O Estado de São Paulo, entre outros. Traduziu brilhantemente Shekespeare e outras peças. Compunha canções para Legião Urbana, como Que País É Este?, e para outros artistas. Suas artes visuais foram vistas em grandes exposições. Foi um dos fundadores do frescobol. Era, e é, visto como uma das figuras mais importantes do jornalismo brasileiro, que atingiu êxito em tudo em que ousou se embrenhar.
 Se autodefinindo como um escritor ''sem estilo'', Millôr era bem-humorado, ácido, crítico, ousado, que escancarava a podridão principalmente do Congresso brasileiro e situações cotidianas.
 Morreu dia 27 do último mês, por falência múltipla dos órgãos.
 Eis algumas de suas mais famosas frases, retiradas de Pensador:
  • Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem.
  • Inúmeros artistas contemporâneos não são artistas e, olhando bem, nem são contemporâneos.
  • Nós, os humoristas, temos bastante importância para sermos presos e nenhuma importância para sermos soltos.
  • O cara só é sinceramente ateu quando está muito bem de saúde.
  • Democracia é quando eu mando em você, ditadura é quando você manda em mim.
  • Viver é desenhar sem borracha.